sábado, 5 de setembro de 2015

Cronos e a passagem do tempo


Cronos é a divindade suprema da segunda geração de deuses da mitologia grega, correspondente ao deus romano Saturno.
Deus da agricultura e também símbolo do tempo.
Filho de Urano, o Céu estrelado, e Gaia, a Terra, é o mais jovem dos Titãs.
Casou-se com sua irmã Réia e com ela teve seis filhos: Deméter, Héstia, Poseidon, Hades, Hera e Zeus.
Seu pai Urano, tão logo nasciam os filhos, devolvia-os ao seio materno, pois tinha medo de ser destronado por um deles. Gaia, então resolveu libertá-los e pediu aos filhos que a vingassem e libertassem do esposo. Todos se recusaram, exceto Cronos, que odiava o pai. Gaia, então lhe entregou uma foice e quando Urano se deitou, à noite, sobre a esposa, Crono cortou-lhe os testículos e os jogou no mar.
Com isso, após expulsar o pai, Cronos toma seu lugar.
Temendo uma profecia segundo a qual seria tirado do poder por um de seus filhos, ele passa a engoli – los ao nascerem. Assim comeu todos seus filhos exceto Zeus, que Reia conseguiu salvar enganando Cronos.
Grávida de Zeus, Réia fugiu para a ilha de Creta e lá, secretamente, no monte Dicta, deu à luz o caçula. Envolvendo em panos de linho uma pedra, deu-a ao marido, como se fosse a criança, e o deus, de imediato, a engoliu.
Quando Zeus cresceu, iniciou uma longa e terrível guerra contra seu pai Cronos, solicitando para esse feito o apoio deMétis - a Prudência - filha do Titã Oceano. Esta ofereceu a Cronos uma poção mágica, que o fez vomitar os filhos que tinha devorado.
Zeus, então o expulsou do Olimpo, banindo-o com seus titãs aliados para o Tártaro, lugar de tormento, depois de uma guerra de dez anos que ficaria conhecida como titanomaquia. E assim como o pai simbolizava o tempo, ao derrotá-lo, Zeustornou os deuses imortais.
Como arquétipo, Cronos representa a passagem do tempo, a velhice, as tradições. Nele encontramos as limitações da vida mortal.
É natural que um soberano com a idade seja substituído por um de seus filhos, entretanto Cronos não aceita bem a passagem do tempo e a perda da fertilidade e do poder, por isso engole seus filhos.

Ele somente encontra a sabedoria na velhice, quando é inevitavelmente expulso por Zeus e se torna um deus agrário. Porém isso ocorre de uma forma amarga.
Cronos, portanto representa o corpo físico, que envelhece de forma inexorável e ao mesmo tempo se rebela contra seu destino fatal.
Esse arquétipo nos diz que devemos aceitar nossa condição mortal e isso se dá por meio da separação dos pais e da infância. Aceitar a maturidade nos traz sabedoria. Somente assim podemos parar de fantasiar que virá alguém como num passe de mágica transformar a nossa vida em um aconchego eterno. E então, passamos a assumir a responsabilidade dos nossos atos e escolhas. A maturidade do espírito faz com que diminuamos as projeções.
Nosso lado adolescente, que não quer “crescer” irá se rebelar, porém, se aceitarmos isso poderemos evitar muitas amarguras e descontentamentos e então iremos encontrar a sabedoria.

CONTOS ZEN

Conta um conto zen, que “estava um homem sentado no alto de um monte enquanto três outros, lá embaixo, discutiam o que estaria ele fazendo lá em cima. O primeiro disse:
Acho que ele perdeu  algum animal, e está procurando-o.  
Não creio, - falou o segundo – se ele estivesse procurando algum animal, ele não estaria parado, estaria em movimento. O mais certo é que ele esteja esperando um amigo.
Também não - apostou o terceiro – se ele estivesse esperando um amigo ele estaria olhando de um lado para o outro, com ar de quem procura. Na minha opinião ele deve estar meditando. 
Os três subiram ao alto do monte para indagar ao homem:
O senhor está procurando algum animal? – perguntou o primeiro.
Não. – respondeu o homem – eu não tenho nenhum animal, e por isso não poderia estar procurando  animal algum.
Já sei – disse o segundo – está esperando algum amigo, não é?
-  Não. Não tenho amigos e nem inimigos – retrucou o homem.
-  Não disse? – interveio o terceiro – você está meditando, não está?
-  Não. – falou o homem.
-  O que está o senhor fazendo, então? - indagaram os três.
-  Nada. – respondeu o homem”.
*
Um viajante, passando pela casa de um Rabi, perguntou admirado:
Onde estão os teus móveis?
A que o Rabi respondeu, perguntando:
E os teus?
Mas eu...retrucou o viajante, estou só de passagem.
Eu também – respondeu o Rabi.
*
Eu sou um homem muito rico, tenho casa com piscinas.
Tenho também porcos e galinhas.
Mas eu, tenho piscinas dentro de casa.
- Eu também... tenho porcos e galinhas dentro de casa.
*
CERTA VEZ INDAGARAM A UM ILUMINADO:
-  O QUE O SENHOR FEZ QUANDO ALCANÇOU A ILUMINAÇÃO?
-  NADA – RESPONDEU O ILUMINADO – TOMEI UMA XÍCARA DE CHÁ.
*
Vivia em uma aldeia um monge chamado Hakuim que era respeitado por todos os moradores do lugar.
Certa vez uma moça da aldeia ficou grávida e disse que o filho era de Hakuim.
Os pais da moça foram à sua casa e o destrataram brutalmente. A que Hakuim disse apenas:
É mesmo?
Todos os moradores da aldeia se revoltaram contra ele e começaram a agredi-lo com xingamentos grosseiros e jogando-lhe pedras quando ele passava pelas ruas.
Quando a criança nasceu os pais da moça voltaram à casa de Hakuim e entregaram-lhe o filho.
Hakuim apenas disse:
É mesmo?
O monge acolheu a criança cuidando dela com todo o carinho, pedindo esmolas para comprar o leite para o menino e desdobrando-se em atenção com o pequeno.
Um ano havia se passado e a moça aflita com aquela situação resolveu revelar a verdade, dizendo que o verdadeiro pai não era Hakuim e sim o açougueiro.
Os pais da moça voltaram envergonhados à casa de Hakuim, explicaram-lhe toda a verdade, desculpando-se, e pediram a criança de volta.
Hakuim escuta toda a história atento e devolve-lhes o menino dizendo:
    - É mesmo?
 * 
Conta uma antiga lenda que, na Idade Média, um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher.
Na verdade, o autor era pessoa influente do reino e, por isso, desde o primeiro momento procurou-se um "bode expiatório" para acobertar o verdadeiro assassino.
O homem foi levado a julgamento e o resultado foi a forca.
Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo desta historia.
O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem à morte,
simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado que provasse sua inocência.
Disse o juiz: - “Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar
sua sorte nas mãos do Senhor; vou escrever em um pedaço de papel palavra INOCENTE e noutro pedaço a palavra CULPADO. Você sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto”.
”O Senhor decidirá seu destino, determinou o juiz”.
Sem que o acusado percebesse, o juiz separou os dois papéis, mas em ambos
escreveu CULPADO de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance do acusado se livrar da forca. Não havia saída. Não havia alternativas para o pobre homem.
O juiz colocou os dois papeis em uma mesa e mandou o acusado escolher um.
O homem pensou alguns segundos e pressentindo a vibração, aproximou-se
confiante da mesa, pegou um dos papeis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu.
Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude
do homem.
- Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber qual seu veredicto?
- É muito fácil, respondeu o homem - basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o seu contrário.

Imediatamente o homem foi libertado.
 *
NEM ÁGUA NEM LUA
Por anos e anos, a monja Reiko estudou, sem conseguir chegar à Iluminação. Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água. Enquanto caminhava, ia observando a imagem da lua cheia refletida na água do pote. De repente, as tiras de bambu que seguravam o pote inteiro partiram-se e o pote despedaçou-se. A água escorreu e o reflexo da lua desapareceu... e Reiko iluminou-se.

Ela escreveu estes versos:

De um modo ou de outro, tentei segurar o pote inteiro,
Esperando que o frágil bambu nunca se partisse.
De repente, o fundo caiu. Não havia mais água.
Nem mais lua na água. Apenas o vazio em minhas mãos.
E seu significado em minha alma.

AVALIAÇÃO CLASSIFICATÓRIA X AVALIAÇÃO PROGRESSIVA

Geraldo Botura do Carmo[1]


"Esta maldita tarefa de aprovar ou
reprovar aluno foi imposta há séculos
aos professores, de tal forma que, num
primeiro momento, torna-se muito difícil
nos livrarmos dela, já que se tornou,
para a grande maioria dos docentes,
algo absolutamente natural."
(APEOESP[2]
A escola brasileira se vê pela primeira vez na sua história diante do dilema da alfabetização e da aprendizagem, uma vez que o novo paradigma da globalização exige, para que se possa competir com os países do hemisfério Norte, uma população letrada. E essa escola que até agora tinha como papel principal a classificação de alunos, determinando aqueles que seriam dirigentes e aqueles que seriam dirigidos, numa atitude de exclusão; se sente impotente diante da nova tarefa que lhe é imposta: a de inclusão.
E toda a estrutura que havia sido montada para a escola de exclusão social, tem que ser desmontada, para que se possa construir a escola de inclusão social. Para isso há que se pensar em uma nova estruturação do espaço físico, uma nova estruturação do currículo, uma nova estruturação do tempo escolar e uma nova estruturação no campo da formação dos profissionais da educação.
O fim da avaliação classificatória que teria que ser vista como um avanço, devido a distorções historicamente acumuladas, vem sendo um campo de equívocos e discórdias entre os profissionais da educação. Precisamos superar os limites e as contradições e seguir adiante, acreditando que um outro mundo é possível, conscientes de que a humanidade pode e deve ser mais feliz. E este outro mundo precisa contar com uma outra educação, que implica também em uma outra forma de avaliação escolar, pois a que tivemos até agora tem provocado enormes estragos. Se não mudarmos de paradigmas, se não descondicionarmos o olhar, torna-se mais difícil vislumbrar novas possibilidades.
Se por um lado ouvimos professores defenderem com convicção que a retenção é uma coisa boa, ou um mal necessário, por outro lado presenciamos os órgãos oficiais impondo aos professores a obrigação de aprovar os alunos. Imposição essa, sem nenhum trabalho de sensibilização e capacitação. Essa decisão tem que partir dos educadores, de pouco adianta acabar formalmente com a lógica classificatória sem uma consciência de fato.
Partamos do princípio de que a avaliação tem uma conotação altamente ideológica (muitos preconceitos enraizados, das formas mais sutis), e tem uma profunda base na lógica social maior. E que o acesso ao saber é a contribuição específica da escola na formação da cidadania.
A única certeza que temos em termos de avaliação é que se faz necessário a proposição de uma outra forma de avaliação, como prática democrática, de inclusão e emancipação no sistema educacional brasileiro. Na história da educação do Brasil, observamos a repetência sendo usada como uma forte arma para exclusão do acesso ao saber, para a expulsão das escolas, dos pobres e dos negros, mantendo assim as classes sociais, bem comportadas, sem conflitos aparentes. Sabemos também "que exclusão no interior da escola não se dá apenas pela avaliação e sim pelo currículo como um todo (objetivos, conteúdos, metodologias, formas de relacionamento, etc.). No entanto, além do seu papel específico na exclusão, a avaliação classificatória acaba influenciando todas estas outras práticas escolares”.

O problema da avaliação está em sua intencionalidade, na sua lógica classificatória e excludente, que tem sua raiz fora da escola, tem sua raiz na lógica seletiva social. A avaliação classificatória é uma questão mais política que pedagógica. Os professores vêm sendo usados historicamente pelo sistema para a reprodução das desigualdades sociais. O professor tem que resgatar a compreensão de que o seu papel fundamental é ensinar, criando condições para a efetiva aprendizagem e desenvolvimento de todos e não o de medir, julgar, disciplinar e selecionar. E ficam os professores ao invés de se preocuparem com a aprendizagem, com o saber, tendo que se preocupar em selecionar os melhores e domesticá-los para o sistema.
A escola concebida como espaço de formação da pessoa, do cidadão tem uma outra configuração. Essa nossa escola já é organizada tendo em vista os que "vão" e os que "não vão" e ela é destinada para os que "vão". E a escola continua a transmitir conteúdos, medir, reter, premiar ou punir o aluno de acordo com o seu desempenho. A questão não tem sido a de intervir para qualificar, mas a de rotular para excluir.

A organização em seriação do sistema de ensino reforça a idéia de reprovação, pois cada série é um "estágio". Se o professor tiver receio de que o aluno não acompanhará o estágio seguinte, este aluno será retido. Falta uma visão de continuidade do processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno. O grande problema da avaliação é a sua vinculação a uma lógica social de exclusão, através dos mecanismos de classificação a que está submetida.
O problema não é aprovar ou reprovar, mas favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento humano de todos. O que tem que mudar é a forma de avaliar o aluno.
 
"O grande nó da avaliação escolar está, pois, nesta lógica classificatória e excludente. É claro que existem outros problemas na avaliação, seja em termos de conteúdo, forma, relações. Só que de muito pouco adianta mexer nestes outros aspectos se sua intencionalidade não for alterada.
Queremos deixar muito claro, logo de partida, o nosso enfoque: estamos a combater a classificação excludente, e não só a reprovação, uma vez que a mera aprovação do aluno pode ser tão excludente quanto a reprovação, já que também não está levando à efetiva apropriação do conhecimento. Precisaria ficar muito patente que o nosso problema não é (não deve ser) aprovar ou reprovar, mas favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento humano de todos”. (APEOESP)

O professor vai defender a reprovação dizendo que "não se pode enganar o aluno", "é preciso manter o nível do ensino", "se precisa fazer alguma coisa diante do fato do aluno não estar aprendendo", "é preciso preparar o aluno para a vida", etc.

"A simples defesa do fim da reprovação e, por conseqüência, a bandeira da mera aprovação/empurração cria um clima de afrouxamento ético, o que não é, com certeza, bom para o avanço da luta pela democratização do saber. O professor não pode perder o brio, o senso ético e, conseqüentemente, a responsabilidade por seus atos”. (APEOESP)

De um lado, uma concepção autoritária, excludente, mas com longa tradição, e, de outro, a concepção emergente, de cunho democrático. A avaliação progressiva se apresenta em oposição à tradicional organização seriada do ensino, pautada na rígida “distribuição de objetivos e conteúdos” e em “anos letivos”. O que está posto, no limite, com a idéia de progressão, é a construção da escola sob o compromisso de incluir os alunos historicamente dela excluídos, sob a alegação de que não se adaptam às suas regras, rituais e aos conteúdos por ela legitimados.
O que a escola tem que fazer e não faz é assumir o compromisso com a aprendizagem efetiva na continuidade do estudo, e desta forma não teria que interromper processo algum com reprovações. A reprovação é uma necessidade dentro da estrutura perversa em que a escola está fundamentada. O ser humano não é para ser aprovado ou reprovado. Ele tem direito fundamental à existência, à cultura, ao conhecimento, ao desenvolvimento.
A avaliação não é neutra e nem uma simples atividade técnica no âmbito pedagógico, ela tem cunho ideológico e vai ter repercussão em várias esferas da existência. Basta olhar e vermos ao nosso redor a desigualdade social. A escola é uma das grandes responsáveis, é ela que através de sua estrutura, seja através de seu currículo explícito, ou oculto, de seus rituais, de seus silêncios, na hora da avaliação, ou na hora da classificação dos alunos em turmas A, B ou C, mantém a desigualdade social e todos passam a achar coisa natural, e fica fácil de ser mantida esta estrutura na sociedade.
O desafio que se coloca aos profissionais da educação é o de analisar as condições de possibilidade de práticas alternativas de avaliação.
A avaliação classificatória ocorre, e sentimos necessidade de recorrer a ela, porque um conjunto de fatores acaba contribuindo para isto. A estrutura organizativa da escola não nos deixa ver outra saída que não essa. E enquanto houver a mentalidade de que existem pessoas de categorias diferentes, a avaliação classificatória vai permanecer no interior da escola. Mudar a forma da avaliação é mudar a sociedade. Assumir a idéia de progressão na trajetória escolar supõe ter como um dos pressupostos da organização do trabalho a diversidade dos alunos, decorrente de suas características individuais e de classe social e, portanto, a aceitação de que estes trilham caminhos diversos de aprendizagem, em ritmos diferentes, que se manifestam em especificidades de trajetórias escolar e de vida.

A avaliação é uma atividade de acompanhamento e transformação do processo de ensino-aprendizagem, através da observação, análise, registro, reflexão sobre o que foi observado e registrado, comunicação dos resultados e tomada de decisão para atingir os objetivos que ainda não foram alcançados. E para isso esbarramos com as questões de salas superlotadas, com tempo reduzido, sem condições reais do professor poder fazer um acompanhamento honesto de seus alunos, fazendo diagnósticos, analisando a situação, dando retorno ao aluno de seus limites e seus avanços, e preparando novas atividades que poderão auxiliar o aluno na superação de seus limites.
E ficamos discutindo se a organização é ciclo ou seriação  (já ouvi até a classificação de “ciclo-seriação”), se é nota ou conceito, se há retenção ou se não há retenção. O problema é bem outro. E se conseguirmos resolver a questão da qualidade não importa que seja ciclo ou seriação, nota ou conceito. E a forma como o aluno vai ser avaliado tem que partir dos professores, não adianta vir receita pronta elaborada pelos "iluminados", por mais "iluminados" que sejam, moradores das altas esferas governamentais.
E uma coisa tem que nos ficar claro: a avaliação progressiva não pode ser confundida com "aprovação automática", servindo apenas à regularização do fluxo escolar, como tem sido usada por muitos governantes para o fim da repetência. É necessário que sejam garantidas, pelo poder público, condições às escolas para desencadearem um processo coletivo de reflexão, que apóie intervenções consistentes. As mudanças que se exigem não são meramente técnicas, mas sim políticas e ideológicas, impondo o confronto com valores arraigados na cultura escolar.
Para finalizar, BITTENCOURT (2003) vai fazer uma análise do papel social da escola no Brasil. A autora afirma que no início somente uma pequena elite entrava para a escola, mais tarde os que entravam e não eram da elite eram expulsos das escolas. Esse fato ocorreu até a década de 60 quando a garantia de vagas para todos nas escolas públicas passou a ser tratada como um problema de política internacional e a expulsão passou a ser constrangedora para as escolas. O que aconteceu então? Não havia mais expulsões, ou melhor, a expulsão aparece com o nome de evasão escolar. E a causa de tanta evasão é a reprovação. O aluno agora não era mais expulso, mas de tanto ser reprovado, acabava por abandonar a escola. O poder público, então, em vários Estados da União, decretou o fim da reprovação. Passou então a ocorrer o seguinte fato:
“As crianças e os jovens estão na escola, permanecem nela e recebem seus diplomas, mas não sabem o que deveriam saber ao deixar a escola. Descobriu-se que a escola não ensina, que os alunos não aprendem, que os professores não sabem, que nossos índices de desempenho estão entre os piores do mundo”.
A autora vai dizer que o que mudou foi apenas o registro burocrático: expulsão, evasão, baixos índices de desempenho escolar. Fica claro, portanto o papel social da escola até agora: o da exclusão social: selecionar, classificar, distinguir, hierarquizar. E a escola por si só não consegue produzir a igualdade numa sociedade desigual, excludente e injusta.

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
APEOESP. Progressão Continuada e Avaliação: Para além do desejo de reprovar e da imposição de aprovar - REVISTA DA EDUCAÇÃO - Nº 16  março/2003
Acessado em 27/04/2003
BITTENCOURT[1], Agueda Bernardete: A escola sozinha não produz igualdade.  Especial para a Folha de S.Paulo 29/07/2003.
SOUZA[3], Sandra M. Zákia L. Progressão Escolar: implicações para a organização do trabalho escolar. APEOESP - REVISTA DA EDUCAÇÃO - Nº 16 março/2003
Acessado em 27/04/2003

[1] Doutora em educação, diretora da Faculdade de Educação da Unicamp e professora da graduação e da pós. Coordena a equipe brasileira da Rede de Pesquisadores sobre Educação, Cultura e Política na América Latina —além do Brasil, a rede reúne pesquisadores do México, da Argentina e da Colômbia.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
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ARROYO, Miguel G. Experiências de Inovação Educativa: o Currículo na Prática da Escola. In: MOREIRA, AntonioFlávio B. (org.). Currículo: Políticas e Práticas. Campinas: Papirus, 1999.
ARROYO, Miguel G. Fracasso-Sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da educação básica. In: ABRAMOWICZ, A. e MOLL, J. Para Além do Fracasso Escolar. Campinas: Papirus, 1997.
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BORGES, Isabel C. Nache. Currículo Democrático: resistências e possibilidades - desafios na implantação dos ciclos na Rede Municipal de Ensino de São Paulo. São Paulo: Editora Articulação Universidade/Escola, 2000.
COLLARES, Cecília A. L. e MOYSÉS, M. Aparecida A. Preconceitos no Cotidiano Escolar - ensino e medicalização. São Paulo: Cortez, 1996.
COLLARES, Cecília A.L. Ajudando a Desmistificar o Fracasso Escolar. In: Toda Criança é Capaz de Aprender? (Série Idéias, n. 6). São Paulo: FDE, 1990.
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GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura, 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
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LIMA, Elvira Souza. Desenvolvimento e Aprendizagem na Escola: Aspectos Culturais, Neurológicos e Psicológicos. São Paulo: GEDH, 1997.
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_______ Avaliação escolar e democratização: o direito de errar. In: AQUINO, J.G.(org.) Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997. P.125-140.
VASCONCELLOS, Celso dos S. O Currículo Organizado em Ciclos de Formação. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula, 2ª ed. São Paulo: Libertad, 2002.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Os Ciclos em Questão. Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e Excludente: do “é proibido reprovar” ao é preciso garantir a aprendizagem, 4ª ed. São Paulo: Libertad, 2002.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação da Aprendizagem: Práticas de Mudança - por uma práxis transformadora, 4ª ed. São Paulo: Libertad, 2002.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação: Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar, 13ª ed. São Paulo: Libertad, 2002.
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VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação como Processo de Inclusão. In Anais do Seminário de Educação de Criciúma. Criciúma, Secretaria Municipal de Educação, 2001.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação no Ciclo. In: Revista Prove. São Paulo: Projeto de Valorização do Educador e Melhoria da Qualidade do Ensino, n. 1, nov. 2002.


[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1. e 2. graus e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2. grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO - MEC - NTE-MG2
[2] Associação dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo
[3] Professora Doutora da Faculdade de Educação FE/USP.