quarta-feira, 6 de maio de 2015

Como construir história em quadrinhos com os alunos



Elementos fundamentais na construção de uma história em quadrinhos.
As histórias em quadrinhos são definidas e conhecidas como narrativas realizadas através da seqüência de imagens, desenhos ou figuras impressas, com falas dos personagens inseridas em espaços delimitados chamados de "balões", geralmente são publicadas em gibis.
Não se sabe ao certo a origem das HQ (histórias em quadrinhos), mas segundo estudiosos da área, o primeiro super-herói de história em quadrinhos a se tornar ídolo foi o Superman, em 1938.
Vale ressaltar que antes dele já existia outros como Yellow Kid, Tarzan e Fantasma.

No Brasil, a HQ teve início com Pererê, de Ziraldo, valorizando o verde-amarelo.
A construção da história em quadrinhos é indicada para ser trabalhada com os alunos com a finalidade de desenvolver a arte, a leitura e a escrita.

Este é um vasto universo de atividades enriquecedoras, possibilitando ao aluno o acesso às referências de conteúdo autobiográfico, a criação de argumentos narrados com base em experiências vividas por ele mesmo e por pessoas próximas.

Além disso, recomenda-se que ao iniciar a produção da HQ, é preciso realizar uma pesquisa e baseada nessa fazer um paralelo sobre o fato marcante que acontece na história durante o desenrolar pessoal da trama, bem como escrever escaletas e roteiros, fazendo uma ligação da trama pessoal com o acontecimento.

Com o objetivo de orientar pais e professores e facilitar o trabalho da construção da história em quadrinhos com seus filhos e alunos respectivamente, segue abaixo alguns elementos e passos que devem ser seguidos, incentivando a produção desse tipo de atividade que é tão enriquecedora na formação de crianças e jovens.

Elementos Fundamentais na Construção de Histórias em Quadrinhos 
1. Argumento: a idéia da trama de forma resumida com início, meio e fim.
2. Escaleta: é a organização de todas as cenas a serem criadas de maneira que sustente a HQ, seguindo uma ordem, bem como uma descrição ligeira.
3. Roteiro: Todas as cenas com cenários, diálogos, apresentação de personagens, desenvolvimento do enredo, os dramas e a finalização.
4. Traço: definição do estilo de desenho a ser utilizado, bem como a tonalidade de luz e cor, juntamente com a densidade.
5. Formato: Estabeleça o número de páginas, visto que tal procedimento indicará o ritmo da narrativa.
6. Distribuição do espaço gráfico/croquis: define o formato da HQ, através de rabiscos da história, reservando espaço para os diálogos e legendas.
7. O lápis: utilizado para o desenhista demonstrar seu traço com maior definição. Um desenho bem feito a lápis é considerado como bom andamento na construção das Hqs.
8. Arte -final: é a fase de acabamento que vai desde o traço das tintas até o momento de dar cor às ilustrações.
9. Lettering: termo originado da língua inglesa, refere-se ao momento de editar o texto.
10. Capa: considerado como uma das principais forma de chamar atenção do leitor deve ser extremamente planejada.
11. Contracapas: Apresenta créditos e textos adicionais.
12. Revisão geral de texto e imagens: fundamental para evitar deslizes freqüentes encontrados em HQ.
13. Prova Gráfica: Momento de conferir se tudo está representado no papel, conforme foi solicitado.
14. Impressão: Quando voltado para produção comercial é estabelecido um orçamento, cronograma e previsão de tiragem que são pré-estabelecidos pela editora responsável pelos direitos de publicação.
15. Distribuição: Irá depender de um acordo entre as grandes empresas do ramo.
Sucesso! 
Por Elen Campos Caiado
Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia
Equipe Brasil Escola

Documentários, reportagens e interprogramas : mais de 280 produções originais da TV Câmara disponíveis para download gratuito

Baixe e use : catálogo de vídeos da TV Câmara em alta resolução


O Baixe e Use reúne mais de 280 produções originais da TV Câmara disponíveis para download gratuito, no endereçowww.tv.camara.gov.br/baixeeuse. São documentários, reportagens e interprogramas informativos (programas curtos) organizados em oito eixos temáticos: cidadania, comunicação, economia, educação, humanidades, meio ambiente, política e saúde. Todo esse conteúdo tem o objetivo de promover a educação, o debate público e o exercício da cidadania.


Os vídeos foram codificados com as tecnologias mais recentes, o que garante ótima resolução de vídeo sem comprometer o tempo de download. Você escolhe como deseja usar o material: assistir pela internet, gravar, guardar, postar em blogs ou sites, ilustrar trabalhos e seminários, exibir em grandes audiências. Não é necessário fazer cadastro nem inscrição.


Acesse o Baixe e Use:

Ministério do Meio Ambiente disponibiliza para download a revista em quadrinhos "Turma da Mônica – Cuidando do Mundo"

A revista em quadrinhos "Turma da Mônica – Cuidando do Mundo" é resultado de uma parceria entre Maurício de Souza e o Ministério do Meio Ambiente. A revistinha traz de forma lúdica e criativa, as questões ambientais em suas histórias, e busca auxiliar no envolvimento do público infanto juvenil no exercício de criar novos hábitos e valores. No site do Ministério do Meio ambiente ou da CNIJMA-Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente você pode fazer o download gratuito.
Você pode fazer o download da revistinha acessando neste link:
Turma da Mônica- Cuidando do mundo

As tiras da Mafalda: conteúdos de Geografia em quadrinhos

As tiras da Mafalda: conteúdos de Geografia em quadrinhos
A área de Geografia do CEPAE - Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, está disponibilizando As tiras da Mafalda: conteúdos de Geografia na linguagem de quadrinhos, a toda comunidade estudantil e também aos professores de Geografia das várias escolas e também a professores de outras disciplinas. Você pode salvar o trabalho em pdf no seu computador através dos links abaixo:

"As tiras de quadrinhos do livro Toda Mafalda, foram digitalizadas e também agrupadas de acordo com diversas temáticas geográficas, como: astronomia, cartografia, globalização, geopolítica, ambiente, lugar, população, cidade, migração, paisagem, território, economia, dentre outros".

Mafalda – O Filme (1982)

"Mafalda, la película" é um animação baseada nas tirinhas da turma da Mafalda, criação do cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado, o Quino, sobre uma menina (Mafalda) preocupada com a Humanidade e a paz mundial que se rebela com o estado atual do mundo. O filme traça um perfil básico de todos os personagens clássicos. O vídeo completo está disponível no Youtube .


Jogo: África - Fui à África e vi



o objetivo desse jogo de memória é conhecer a fauna africana. Então vamos até a África conhecer os animais daquele continente e exercitar a sua memória! Para jogar, basta repetir a seqüência de animais que o computador fizer. Por exemplo. O computador vai apresentar “leão”. Então o desenho do leão vai aparecer e desaparecer. Você deve clicar com o mouse imediatamente sobre o “leão” desenhado no mapa. Depois o computador vai repetir “leão” e mais outro animal, sempre acrescentando mais um à lista iniciada com o jogo. E você deve sempre clicar sobre os animais que ele falou, repetindo a ordem da seqüência, sem errar. Dê um passeio pela África e boa sorte!

Fui a África e vi

Globalização e Diferenciação no Consumo de Alimentos

   A facilidade de deslocar fisicamente um produto de um ponto do planeta a outro e de levar as informações eletronicamente, em tempo real, incrementou de forma tremenda tanto o comércio global como o dos alimentos. No período de 1997 a 2006, o comércio mundial de produtos do agronegócio cresceu de US$388,6 bilhões para US$609,8 bilhões, o que significa um incremento de 56,9%1.

Por outro lado, este processo de globalização refletiu-se também na abrangência e dimensão das crises alimentares devido a problemas sanitários e doenças em animais, como o BSE (Bovine spongiform encephalopathy) ocorrido nos anos 90 e, posteriormente, a disseminação da gripe aviária.

Com as inovações tecnológicas aplicadas no setor agrícola, as produtividades vegetal e animal aumentaram significativamente. Os impactos sobre a qualidade de produto agroalimentar, porém, passaram a ser questionados. A qualidade do produto para populações de elevado poder aquisitivo, com as inovações tecnológicas das nações capitalistas centrais que já superaram os limites quantitativos da alimentação, passou a ser demandada cada vez mais. No entanto, na África, por exemplo, onde multidões famintas se expõem a níveis inaceitáveis de nutrição, a questão ainda é quantitativa. Nesse novo mercado de qualidade, o uso de grãos transgênicos na alimentação animal e na composição de alimentos industrializados tem sido alvo de controle e exigência de rotulagem discriminada para o conhecimento do consumidor.

A qualidade aqui assume um requisito inexorável da saúde e cada vez mais o alimento sadio passa a ser pré-requisito.

Outro fator relevante a ser analisado como indutor de um consumo de massa é a estrutura da indústria global de alimentos e as grandes redes de supermercados. A indústria de alimentos, por meio da incorporação de tecnologia, transforma os alimentos em insumos químicos e depois os incorpora novamente, desenvolvendo novos alimentos. Campanhas contra o consumo de gorduras trans obrigaram as empresas alimentícias brasileiras a declararem a presença ou não desse composto no alimento. Problemas de aumento da obesidade infantil e de doenças crônicas, como diabetes mellitus, preocupam cada vez mais os consumidores e os dirigentes governamentais.

A estrutura de varejo atual tem um papel muito importante na formatação do tipo de consumo. A concentração do varejo em poucas grandes redes de supermercados tem conduzido à padronização das exigências quanto ao produto alimentar e às mudanças nos sistemas produtivos agroalimentares de alta qualidade.

No Brasil, em 1999, as cinco maiores redes de supermercados já respondiam por cerca de 60% do faturamento total do setor. O estudo analisou os processos de fusões e aquisições no setor que propiciaram a presença de poucos grandes grupos e alto nível de concentração.

A rede Carrefour no Brasil tem um centro de distribuição em São Paulo que serve a mais de 50 milhões de consumidores. O Carrefour compra melões de três produtores do Nordeste para abastecer suas lojas brasileiras, e também envia a fruta para outros centros de distribuição em 21 países. No setor de lácteos, no Brasil, também ocorreu uma concentração de 1997 a 2001, quando doze grandes processadoras de leite retiraram cerca de 75 mil produtores de sua lista de fornecedores2.

Na Ásia, especificamente na Tailândia, um grande supermercado reduziu sua lista de fornecedores de 250 para 10, demonstrando que tem ocorrido um estreitamento do varejo de supermercados para os pequenos produtores familiares. O custo de transação decorrente da necessidade de gerenciar muitos contratos com pequenos levou os supermercados a concentrarem seus fornecedores. Isso é efeito-escala típico das sociedades de massas. A alternativa consiste em fugir desse mercado de massa e apostar na segmentação.

As alternativas para os pequenos produtores têm sido se organizarem em cooperativas para obter certificações de produtos orgânicos, fair trade e os ambientalmente corretos. Para os pequenos produtores, o sistema orgânico oferece um lucro maior, pois os preços são melhores. A maior rentabilidade é derivada de preços maiores e de custos menores, pois se retira a dependência com insumos químicos aumentando o uso do fator mão-de-obra, cujo custo é menor.

Produtos certificados melhoram o acesso destes ao varejo nacional e aos países industrializados, pois parcela dos consumidores demanda cada vez mais qualidade, segurança alimentar e sustentabilidade. Mas, em alguns casos, a certificação tem um custo, que pode ser um obstáculo para o pequeno produtor, que enfrenta o dilema da escala e, ainda, paga caro ou geralmente não tem acesso ao crédito. Também há um efeito-escala em função dos custos de transação, ou seja, para o financiador é muito mais custoso administrar vários contratos de pequenos valores. A Indicação Geográfica, por sua vez, oferece a possibilidade de agregar valor ao produto para um grande número de produtores dentro de um espaço geográfico.

Os supermercados no mundo são o local de compra da elite saudável, da classe média e das classes populares. Se por um lado a atuação globalizada acabou por democratizar o consumo pela igualdade de acesso, por outro também padronizou a demanda pela irradiação de um dado padrão de consumo de massas com inquestionáveis ganhos de escala. Além disso, resultou em um efeito perverso, pois muitos pequenos produtores rurais ficaram marginalizados do processo de fornecimento para esta massa consumidora.

A globalização dos supermercados também aumentou o custo da rastreabilidade do alimento e, diante das exigências do consumidor, alguém terá que arcar com este custo e os produtores devem se preparar para atender a estas novas regras para continuar comercializando seus produtos, seja no nível local, regional ou global.

Com o comércio global observam-se, no setor agroalimentar, a padronização do consumo, da forma de produzir o alimento e do modelo de distribuição pelo grande varejo de supermercados, e também as crises que afetam o setor produtivo, como a disseminação de doenças em animais e plantas.

A perda da identidade original do alimento, além do desconhecimento de como e em que condições ambientais e sociais este é produzido, têm levado esses segmentos de mercado da qualidade à utilização de mecanismos de identificação e rastreabilidade.

A denominação de origem foi utilizada no passado para ajudar os produtores de vinhos de Bordeaux e do vinho do Porto a se protegerem contra possíveis fraudes e, posteriormente, este tipo de certificação passou a ser utilizado para produtos que apresentavam uma qualidade diferenciada que geralmente está relacionada com um espaço geográfico e uma comunidade produtora. Hoje, para esses mercados da qualidade, as Indicações Geográficas passam a ter um papel relevante no contexto de comercialização globalizada dos alimentos e do consumo massificado de produtos padronizados.

Na Europa, a proteção dos produtos com denominações de origem e indicações geográficas está amparada por legislação específica, pelo Regulamento (CEE) nº 2081/92 relativo, da Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia3.

No Brasil, a Lei 9279 de 1996, que regulamenta a propriedade industrial, trata das Indicações Geográficas, nos artigos 176 a 182. O registro deve ser solicitado ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), e o Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA) foi designado para fazer o fomento de IGs4.

Falta ainda uma estrutura nos moldes do Institut Nacional de l´Origine et Qualité (INAO) na França, para realizar o acompanhamento e controle destes produtos. Estão envolvidos neste processo vários atores, tais como SEBRAE, institutos de pesquisa, universidades e governos locais e nacionais.

Surge nos espaços rurais a possibilidade de criar marcas de qualidade regionais e marcas coletivas de produtos com especificidade particular. A Indicação Geográfica é hoje, para um amplo segmento da agropecuária de não-commodities, um instrumento de desenvolvimento rural local e regional que tem uma capacidade de agregar valor a produtos anteriormente considerados commodities, e também capaz de valorizar uma comunidade e seus atores sociais, dando uma identidade aos seus produtos5.

A produção e o consumo de alimentos no contexto de globalização apresentam-se, portanto, sob duas forças ou tendências: a "standartização" e a diferenciação. A primeira foi impulsionada pela economia de escalas na produção dos alimentos e da comercialização de massa promovida pelas estruturas oligopólicas do fluxo produção-consumo, e tornada mundial como padrão de consumo pelas redes transnacionais de supermercados. A "diferenciação", como força contrária ao movimento da "standartização", busca dar características de identidade pela origem do produto e de qualidade construída em espaços territoriais específicos por meio da participação de atores sociais locais.

Esta tensão criada por estas duas forças, que derivam de segmentos de mercados com atores diferenciados em função do poder de compra, surge devido à crescente perda da informação sobre a natureza intrínseca do alimento ocasionada pelas inovações tecnológicas aplicadas desde a produção agrícola, na indústria de alimentos e na comercialização do produto no mundo (Figura 1).
Figura 1 – Fluxo do Alimento para o Consumo Global.
Fonte: Elaborada pela autora.
         

No contexto de globalização, o comércio de alimentos representa um intercâmbio de produtos de origens diversas e ao mesmo tempo com características similares. Atualmente, observa-se um paradoxo que caracteriza dois movimentos distintos. Se por um lado tem-se o fluxo de alimentos tipo commodities já estabelecido, alimentos com denominação de origem, qualidade diferenciada e com selos de certificação também estão presentes e com crescente relevância em diversos mercados, principalmente no europeu.

Este panorama que se vislumbra ocorre por influência de diversos fatores. Inicialmente, deve-se à mudança ocorrida no perfil da demanda, ou seja, das novas exigências do consumidor. Este novo consumidor tem preocupações que transcende a fronteira do produto alimento em si, e está preocupado em ter informações sobre "quem" produz este alimento, "como" ele é produzido e "quais os efeitos" de sua ingestão sobre a saúde humana e seu corpo ao longo de sua vida.

A preocupação de quem produz o alimento industrializado está relacionada com a origem da matéria-prima e com a maneira como é produzida. Os mecanismos de mercado introduzidos para fornecer esta informação são as denominações de origem, as indicações geográficas e as certificações. Além da origem, os produtores de alimentos procuram informar ao consumidor como este é produzido, e se o sistema de condução respeita questões ambientais e sociais.

A qualidade do alimento não mais se limita a uma boa visualização, mas diz respeito também a sua qualidade nutricional e a seus efeitos sobre a saúde. Alimentos sem resíduos de agrotóxicos, sem presença de antibióticos, sem estimuladores de crescimentos e com certificados são considerados diferenciados e com agregação de valor.

Nesse contexto, o comércio e a distribuição de alimentos estão passando por mudanças de exigências, com crescentes regulações qualitativas que podem construir barreiras não-tarifárias à entrada de produtos de um país para outro. Dessa forma, os produtores rurais estão, juntamente com o governo de seus países, procurando formas de valorizar seus produtos para adequá-los a esta nova configuração do perfil da demanda. Esses produtores buscam construir a institucionalidade desses mercados regulados pela qualidade. E os instrumentos presentes no mercado são a denominação de origem, as certificações e a indicação geográfica. 

A globalização e a saúde

Por Paulo Buss*
Numa viagem de cinco dias a Bancoc, capital da Tailândia, para participar da 6ª Conferência Mundial sobre Promoção da Saúde, pude verificar nitidamente, em campo, como dizem os pesquisadores, as conseqüências nocivas da globalização e da pobreza sobre a saúde, tema, aliás, da conferência que fiz naquele evento.


Uma delas foi o imenso risco de uma epidemia global de gripe aviária oriunda do sudeste da Ásia. A Tailândia e a antiga Indochina Francesa (Vietnã, Laos e Camboja), além da China, Indonésia e outros pequenos países continentais e insulares, são cenários perfeitos para a difusão do vírus H5 N1 de aves para humanos e destes entre si, como, aliás, já vem ocorrendo com pequeno grau de intensidade, nos últimos dois anos.


A produção de frangos, patos e outras aves, assim como porcos e certos animais menos conhecidos entre nós, ocorre em larga escala e em péssimas condições sanitárias. O convívio íntimo entre criadores e animais, o abate dos mesmos sem condições sanitárias adequadas, a desproteção dos trabalhadores desta indústria improvisada, a alta concentração populacional em cidades como Bancoc, o imenso número de pessoas que comem nas ruas, feiras e em precárias barracas de mercado sem qualquer higiene, tudo isto resultante da pobreza extrema e da concentração de renda, estão criando condições propícias a uma epidemia de proporções alarmantes, a rigor não só de gripe aviária, como da Srag e outras zoonoses.


Meu retorno ao Brasil ocorreu em cerca de 30 horas, passando por um aeroporto da Europa no qual fiquei por três a quatro horas. Ora, se eu tivesse sido contaminado pelo vírus da gripe estaria ainda assintomático ou com sintomas comuns da gripe, mas teria contaminado pelo menos os passageiros do avião que estavam ao meu redor (digamos 15 a 20 pessoas), algumas centenas no aeroporto europeu e poderia contaminar mais gente no Brasil. É assim que as facilidades das viagens internacionais, característica significativa da globalização, ajudam a difundir as doenças transmissíveis no século 21.


Entretanto, para meu alívio, em paralelo à Conferência, uma reunião de alto nível que reuniu o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) e os ministros da Saúde e técnicos de sete países da região (Tailândia, Japão, Laos, Vietnã, Camboja, Malásia e Burma) discutiu e aprovou a formação de estoque de um dos poucos medicamentos com ação contra o vírus da gripe. A intenção é que, caso surja a doença em um desses países, a autoridade sanitária possa recorrer a um bloqueio da área em que os casos ocorreram, utilizando os produtos estocados neste "banco de medicamentos". O jornal do dia seguinte anunciou o fato em manchete de primeira página.


Ocorre que neste mundo globalizado algumas coisas são muito privadas. Apenas um grande laboratório internacional produz esta droga, que custa muito caro. Por sua vez, ancorado nas regras da propriedade intelectual e industrial (Acordo Trips da Organização Mundial do Comércio) ninguém pode produzi-la, a não ser que receba uma licença voluntária da companhia ou quebre a patente. Se for um destes países pobres que estão ameaçados pela influenza vai ser retaliado à morte nas suas exportações agrícolas, por exemplo. Assim, no mundo globalizado a ameaça é mundial, embora a defesa mais eficaz esteja em mãos privadas e fora do alcance de nós, pobres humanos comuns ameaçados. Isto o jornal do dia seguinte não anunciou.


Mas os poucos dias na Ásia me mostraram muita outras características nocivas da globalização. Um dos jornais mais importantes da Tailândia anunciou que a Noruega, a Islândia e outros países da União Européia tinham suspendido a importação de verduras tailandesas por estarem contaminadas com salmonela e E. coli, bactérias causadoras de diarréias, mais graves em crianças e idosos. É claro que no jornal do dia seguinte o ministro da Agricultura da Tailândia anunciava inspeções sanitárias mais rigorosas sobre tais produtos e sua produção. Nada de novidade aí, pois diariamente milhões de toneladas de alimentos in natura e industrializados são comercializados e transportados ao redor do mundo e muitos deles estão contaminados com micro-organismos conhecidos - e outros, nem tanto -, produzindo doenças nos seus consumidores. A saúde pública dos países produtores e dos importadores é fundamental para barrar esta fonte importante de doenças transmissíveis no mundo globalizado.


Outra característica da globalização é o turismo e a exploração sexual de crianças e jovens pobres, de ambos os sexos, de países também pobres de regiões como Sudeste Asiático, África, América Latina e Caribe. Em março de 2005, a Comissão Social e Econômica das Nações Unidas para a Ásia e o Pacífico (Unescap), que tem sede em Bancoc, emitia um informe muito bem documentado de diagnóstico e enfrentamento do problema. As ruas dos bairros, em Bancoc, são um impressionante retrato vivo sobre o assunto. Milhares de meninas e meninos adolescentes se oferecem nas ruas ou dançam, uniformizados e numerados, nos palcos de centenas de bares, confirmando a alcunha de Cidade dos anjos que Bancoc já tinha historicamente. Mas atenção: o Brasil não é muito diferente, o turismo sexual é uma das nossas chagas mais visíveis, contra a qual numerosas iniciativas do poder público, de ONGs e da sociedade como um todo têm procurado atuar.


Não se está levantando aqui nada contra o turismo e o lazer, muito menos contra a Tailândia, um país fascinante e belíssimo, com um dos povos mais hospitaleiros que já encontrei. Queremos apenas alertar a respeito das conseqüências da globalização sobre a saúde, seja diretamente ou por meio da pobreza crescente e da ampliação das desigualdades que vêm impondo ao mundo.

* Paulo Buss é coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz e membro-titular da Academia Nacional de Medicina

Cartilha da Turminha do Ministério Público Federal (MPF) ensina como contribuir para a preservação da água


Cartilha da Turminha do MPF ensina como contribuir para a preservação da água; baixe a sua
http://www.turminha.mpf.mp.br/multimidia/cartilhas/Cartilha-Ser-Amigo-da-Agua.pdf